segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Hoje quero poder ser fraca.

Passei o ano sorrindo e animando os outros. Sorrindo das adversidades. Pensando sempre que podia ser pior. E que já foi pior.

Mas hoje, hoje acordei cansada. Ou melhor, nem sequer dormi direito. Quero ter o direito de poder ficar escura, taciturna, com o olhar magoado. Não que seja mágoa. Apenas cansada. Não quero ter que sorrir e dizer que está tudo bem, não quero brilhar de alegria. Quero ficar quieta, em silêncio. Me recolher e deixar o tempo apenas passar por um dia. Ao contrário de muitas vezes esse ano, o que me tirou da cama não foi o desejo de viver mais um dia, a esperança das coisas melhorarem. A cama ficou insuportável pelos fantasmas da minha cabeça, que teimaram em sair dos locais mais escondidos e tumultuar meus pensamentos. Sem nenhuma resposta, nem mesmo do por quê que eles resolveram insurgir logo agora, peço este dia para desistir. Um dia apenas para não ter esperança. Um dia de comiseração e descrença.
Um dia para não se viver.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A musa de olhar magoado às vezes tenta retornar.
Já não é mais freqüente, já não deforma o olhar.
Mas a inquietude não permite que ela permaneça por muito tempo
De repente me vejo pensando na pele que habito
Na carapaça que uso.
Para alguns, torna-se algo leve divertido
Para outros, assustadora.
Estrangeira de mim mesmo por alguns momentos.
Não me reconheço, mas também sei que o que conhecia, não era eu
No fundo do quarto escuro não há mais nada.
Não é mais lá que me encontro.
Me perdi de mim? Ou apenas só agora me encontrei?
Às vezes temo o que pode vir a ser.
Abraço a solidão e logo desisto dela, pra em seguida querer voltar.
Em toda essa caminhada muita coisa se perdeu.
Vários pedaços, várias terceiras pernas.
Agora espero apenas por um beijo dado mais tarde













































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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mais uma Maria
Correr pelo anonimato.
No nome
No fazer
No ser
Não me trouxe nada.
Maria só.
Ser Maria não é fácil.
Um nome abreviavel.
Mas que não mais desejo abreviar.
Tal como a vida que não deixa de ser vivida apenas por que se deseja abreviá-la
Maria de verdade sofre.
Sorri quando quer chorar.
E sempre chora de rir.
É maluca, mas muito centrada.
De lagarta a borboleta.
Não adianta agora tentar voltar para a crisálida.
Bater as asas enquanto é tempo.
Pois é efêmero o viver,
e o tempo de encubar já acabou.
Mesmo sem asas firmes.
Mesmo sem um arcabouço que proteja das quedas.
Mesmo sem um exoesqueleto quitinoso.
A dor faz parte, como o prazer.
A menina árvore, virou mulher jardim e procura novamente pelo salão do encontro,
rever conhecidos e esbarrar em desconhecidos.
Bailar num sonho de valsa, ouvindo uma serenata de amor, e no fim, poder pedir biz.

Obs: quis recuar e não postar, mas seria também, mais uma vez, me esconder.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Certo dia de sol, numa cidade grande. Uma árvore atropelou uma menina. Anos mais tarde um jardim brotou em suas costas. Naquele dia, coisas pequenas iam dar certo, mas seu caminho foi interrompido. Nem sempre as coisas grandes ou pequenas dão certo. A menina ainda gosta de cravos. Mais por seu cheiro, que por seu nome. A mulher jardim ainda trava as costas. Nos momentos em que não acredita em si. Afinal, árvores atropelam pessoas apenas em contos de realismo fantástico ou filmes de terror.
Ah como é fácil se enganar na vida! Achando que o estranho é exterior. O estranho é o próprio real. Essa verdade que não me faz sentido. Que nunca nos obedece quando queremos. Mas ruma como uma nau perdida, num sem-sentido, nessa desrazão. Não adianta saber navegar, não adianta segurar o timão. Pois mesmo o rumo que resolvemos imprimir podem mudar nos deixando novamente a deriva.
Hoje não mudei o rumo. Mas as costas-jardim me atrapalham. Lembram-me que o real não pode ser engessado. Que o texto tem que ser liberado sem medo e, às vezes, sem forma, para depois de conformar e ter a forma que os outros esperam. Travo as costas por travar o texto, travar a ação. Não falta coragem ou vontade de continuar.
Era apenas preciso lembrar que diante do real nada se espera, nada se conforma. E principalmente que árvores atropelam pessoas.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Jardins de veredas que se bifurcam
Dos caminhos que trilhei
As feridas dos meus pés são de dentro para fora
A ex garçonete caminha por uma nova estrada.
Em tempo modernos retorna-se ao passado.
Passado não seu, mas dos outros.
Após longa volta talvez não haja retorno.

.....

Reta e distante até onde a vista alcança
Sorrir mesmo diante da adversidade.
Mesmo quando a única vontade é chorar e desistir.
Por vezes, olho para os meus pés machucados.
Essa caminhada não é fácil ou mesmo tranquila.
É uma estrada vazia, solitária.
Não por descaso ou abandono.
Sua solidão é contaminada por quem a trilha.
A falta de cor.
O silêncio.
Não a tornam triste.
Mais uma vez reitero minha escolha sem certeza.
Observo a explosão silenciosa da alvorada.
Onde não se vê nada novo.
A estrada continua em preto e branco.
Por escolha caminho sozinha.
O olhar perdido permanece.
Mas abre espaço para novos olhares.
Se agregam novas perspectivas.
A estrada é uma.
Mas mesmo com os pés ainda machucados,
quem a trilha não é mais a mesma.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Acendeu um cigarro. Não que isso lhe ajudasse na espera. Mas iludia. Já havia preparado sua fala. Era um final. Um ponto final. Havia decidido assim, não voltaria atrás. Na noite insone anterior repassara tudo que precisava dizer. Todas as explicações que gostaria de dar. Estava sentada num bar conhecido. Velho conhecido dos dois. Em sua cabeça tocava a música. Dois violões e um acordeon. Um diálogo de adeus. Um adeus sem briga. Sem mágoa. Apenas a constatação de que algo acabou. Um algo, que por seu forte fim, não deixava restar nada. Apenas a tristeza do fim. Ele entrou. Já sabia o que ocorreria em seguida. Por alguns instantes apenas os olhos conversaram. E ambos assentiram. Não cabia palavras. Todo o discurso ensaiado se esvaziara. Não havia mais sentido. Dizer adeus não era fácil. Nunca o será. Ela por fim deixou o som sair. Você já sabe. Sim, ele respondeu. Ela apagou o cigarro. Não havia consumido nada. Não havia sentido nem em pedir a conta. Levantou. Passou a mão no cabelo. Olhou mais uma vez nos olhos dele. Vazio. Sentia a tristeza. Mas não havia mais nada. Teve a certeza, coisa que preferia sempre evitar, mas essa certeza era mais forte. Assim, fez o que faltava, o que achava devido e correto. Adeus. Se virou. A vontade era de virar para trás, tentar reconhecer algo que ainda restasse. Algo, uma faísca, que a fizesse se arrepender. Desistir. Mas sabia que não encontraria mais nada ali. Forçou-se a caminhar. Ir se distanciando. Não sem lágrimas. Afinal, por mais que já soubesse, ainda assim doía. E continuou caminhando. Resistindo ao desejo de procurar o que já não havia. A música: Milonga del Angel - http://www.reverbnation.com/artist/song_details/749407

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

As palavras fugiram de mim? Não, penso que as tenho tratado muito bem, com carinho. Não acho que possa as ter magoado para que isso justificasse uma fuga. Teriam então elas sido roubadas? Mas então, quem faria isso. E por qual motivo? Afinal palavras minhas não se encaixam bem nos textos de outros. Mesmo sem resposta sei que as palavras não estão por aqui. Aqui reina o silêncio. Será que ele, ah... talvez o silêncio as tenha espantado, ou as roubado. Esse vazio tão conhecido de outros tempos, que novamente me ronda sem que eu consiga evitá-lo. Exitem silêncios que gosto. No quarto, antes de dormir. No nascer do sol, quando tudo parece explodir, mas nada acontece. Diante do mar, quando por vezes me faltam as palavras pois preciso tomar folego. Mas o silêncio de hoje não se configura como estes. Não é um silêncio apaziguador da alma. É a falta de algo que me escapa. A falta de força para dizer. Um silêncio que vem do vazio do olhar perdido. Como se a musa de ar magoado despertasse e viesse me dizer que mais uma vez perdi minha chance. Que, por hora, não terei forças para resistir.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Inspirado no livro contos de amor e não, da Lúcia Castello Branco


Dos conto de amor e não, fico com o não.
Mesmo não sendo possível defenestrar o amor,
Deixo-o num canto.
Não um canto qualquer.
Num canto da alma.
Um lugar onde não possa ser ouvido.
Mas também não será olvidado.
Apenas me distraio com a vida.
Com não-amores
Com prazeres de descoberta.
Com permissões antes não dadas.
Não é mais um jogo.
Não acho que seja brincadeira,
Ou apenas um ritual.
É sério
Mas a seriedade que almejo,
Todavia não tem espaço para o amor.
Talvez ainda
Talvez depois
De qualquer modo,
gosto que meu momento seja assim,
Aliás....

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Repetir
Repetir
Repetir
Os mesmo movimentos.
Repetir
Repetir
Repetir
Dobrar, Cortar
Dobrar, Cortar
Virar
Dobrar, Cortar
Delicadeza, cuidado, atenção.
Dobrar, Cortar
Precisão. Melhorando.
Mas ainda assim repetindo
Aprimorar. A dobra perfeita.
Do plano surge o sólido.
Sempre repetindo.
NÃO
Navego sem mapa. Há muito deixe-os para trás.
Quero por vezes águas calmas.
Mesmo perdida sei que preciso também descansar.
Mas o que seria um porto seguro não existe.
Se afasta. Se desfaz.
Não há, é verdade, tumulto nas águas.
Mas também, não é aqui que desejo ficar.
Descansar preciso.
Mas ainda não é hora.
Prefiro o não saber. O tumulto do oceano. Pois mares são pequenos. Vivi uma falsa calmaria. Que agora que vejo, não desejo mais.
Recolher ancoras. Hastear velas. Preparar para mais uma vez se laçar.
Grito sozinha em minha pequena nau.
Não tenho mais medo que não resita. De um labirinto confinado para a imensidão do mar.
Este que não cansa em me chamar.
Mar ia
Mar vou
Mas fui
Mar sou

quarta-feira, 13 de julho de 2011


Com passos curtos, mas decididos, adentrei na morada do fauno. Senti o cheiro do mato. Ouvi o barulho da água. Longe ficaram os carros e o concreto. Mesmo munida de um mapa, me dissolvo no labirinto. Em meio às arvores sinto o som que me embala. Sem medo, me perco. Navego pelos caminhos que se abrem, mas a direção e o mapa não servem mais para me orientar. Sei que nesse momento é necessário me perder para perder o que estava velho, que me pesa. O Fio de Ariadne que serviria de saída, constrói-se naquilo que tanto carreguei, mas que agora já não me é útil. Dentro do jardim sigo apenas. Por vezes, os pedaços que vou deixando cair fazem sons silenciosos. Como se não chegassem a tocar o chão, mas apenas pairassem. Certo momento porém, um estrondo, o pedaço perdido cai ferindo o solo. Me assusto e pela primeira vez olho para trás e percebo os vários pedaços deixados pelo caminho. Paro um instante. Vejo então o fio de Ariadne que se formou. Mas este não é reto e claro. Se embola, revela minha errância, a falta de direção dos meus passos dentro do labirinto. Ora avança, ora retorna e por fim, mistura-se. Sei que não há como resgatar o fio, e fazer dele minha volta. O fio já não está mais inteiro. Pouco a pouco percebo que junto com os pedaços que pedi cortei a linha que me liga a eles. Mas não tema leitor. Estar perdida é o meu jeito de me encontrar. Não me abandono. E permaneço inteira naquilo que me é necessário.
Continuo meu passeio pelo labirinto. Sei que cedo ou tarde me encontrarei com o monstro que guarda o lugar. Mas bem... Não há como teme-lo. Afinal sou tanto ele quando ele é a mim.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Aquecida pelo sol. Absorvendo dele toda foça que acumulava para o futuro. Mas desde já previa o momento. Inspirava o cheiro do mar. Como se pudesse guardá-lo em seus pulmões.

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Com a luz veio o silêncio.
É mais fácil falar dos temores do que das alegrias. Sorrir com os olhos. Olhos que sempre irão carregar o olhar perdido. Distante. O brilho do sol me aquece. Mas o vento rouba do meu corpo o calor. Nem todos os dias são de sol. As nuvens cinzas fazem parte do pantone de cores da vida. É importante lembrar que o brilho demais ofusca. Mesmo sendo capaz de exibi brilho nos olhos, estes mesmo olhos já foram escuridão e silêncio. A menina dos guarda-chuvas vive todas as formas. Enfim lançou-se na chuva, gelou os ossos. E agora se aquece ao sol.

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Hoje não entrarei no mar. A placa vermelha avisa: Perigo. Correnteza. Mas, ainda assim, sinto o mar em mim.
Como se o mar entendendo que por hora devo respeitar o aviso, delicadamente lançasse gotículas sobre meu corpo. Abençoando a visita. Como se me chovesse o mar.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A mensagem estava lá fora. Mas o som era indistinto. Da janela, coberta com uma cortina branca vem o som de uma chuva que não existe. Mas parece torrencial. O som da água. Correndo. Para onde? A água sempre corre para o mar. Seu eterno retorno. Sua morada. Onde sua força repousa. Mas agora, olhando pela janela não se vê a água. E o som é indistinto. Apenas mexe com a imaginação daqueles que se perderam. Demorei para compreender. Mas...

domingo, 3 de julho de 2011

"Besouros não trepam no abstrato."
"O vazio é muito maior que o cheio" (MB)
Acordou. Fechou a mala. Falou pouco. Estava concentrada. Foi sozinha para o aeroporto. Caminhou pelo saguão, com música nos ouvidos. Mas ela precisava era de silêncio. Estava concentrada na tarefa da travessia. Apostara que não sofreria. Aquilo tinha acabado. Não mais a machucaria. Sentia uma leve angustia. Mas estava calculada Equilibrava-se concentrando em se perder. Caminhou para o embarque. Encontrou seu assento. Uma revista a distraia. Puro calculo. Enquanto o avião taxiava na pista ela lia todas as letras. Mas uma a uma. Não lia o texto. Se concentrava no traço. Achava que assim trapacearia com o medo. Fingia não pensar.
Então sentiu que perdia o chão. Parou. Não podia trapacear. Não iria se enganar mais. Sorriu. Deixou o seu corpo sentir. Não mais se concentrou. Olhou pela janela e o chão, distante, encontrava-se torto, inclinado. Não podia fingir que não sentia. Mas também soube que não era mais medo. Estava desamarrada. Estava livre. Perdera a gravidade. Ficou leve e, o ultimo peso escorreu em uma lágrima. Estava sem chão. Mas agora ouvia claramente a mensagem. Sem medo. Voou. Via o céu. O horizonte vazio de palavras para explicá-lo. Seu chão virou nuvens de algodão. E a suavidade do entardecer coloriu o seu céu. Foi para o alto. Muito alto. Mas não havia mais dor. Mesmo o vazio não doía mais. O olhar perdido. Ah olhar perdido se perdeu na imensidão das nuvens. Se voltou para fora, e não mais para dentro. E agora era silêncio. Um silêncio que coloria o vazio com a paleta do entardecer.

domingo, 26 de junho de 2011

Uma taça de vinho e uma caixa cheia de lembranças. Diante dela a difícil tarefa de se confrontar com aquilo. O passado. Em sua defesa a necessidade da mudança. Uma física que se aproxima. Ou mais sutil. Quase imperceptível que tem acontecido. Viu se estraçalhar e temeu se quebrar. Nada disso aconteceu. Descobriu-se forte. O que temia que podia ser o encontro com o chão se revelou apenas uma suave turbulência. Continuava inteira. A fragilidade não estava mais ali. Essa nova pessoa que aos poucos se descobria era muito mais forte e honesta consigo. Sabia o que queria e não se desviaria disso. Seu rumo, não plano, estava sendo traçado por ela. Somente por ela e ninguém mais. Abriu a caixa. O cheiro gostoso dos incensos guardados inundou o quarto. Não era suave, mas era doce e levemente embalava o caminho para mergulhar no mar de lembranças. A primeira coisa que viu foi uma foto. Era uma foto de alguém que ela não queria mais se lembrar. Sem pena a rasgou. E viu o temor. Tudo ali seria assim? Será que em sua nova força apagaria todo o passado? Continuou. Não podia parar. Cartas de amigos que não estavam mais com ela, por caminhos diferentes. Mas ficava a nostalgia da inocência do momento. Guardaria. Não era mais verdadeiros os sentimentos ali. Mas um dia foram. Um poema de um amor antigo, fez suas mãos tremerem. Podia se deparar com o momento de impulso tal como anterior, e o destruir. Abriu o papel amassado e envelhecido. Leu. Sua mente estava em paz. Aquilo fora realmente verdadeiro. Não podia abrir mão do que fora. Aquilo realmente fazia parte dela. Era o que se tornara, também por causa do que vivera. E disso não mais se arrependia. Sorriu. Certas coisas são melhor esquecidas. Perdidas, ou até jogadas fora. Outras, por mais que não tivessem sido completamente felizes, foram momentos que guardaria. Mas agora sem nenhuma dor.

sábado, 18 de junho de 2011

Os passos ecoavam distantes. As pessoas daquela casa se moviam, mas distantes daquele quarto. Estava escuro e já não sabia que horas eram. Quanto tempo eu dormi, pensei? O olhar perdido voltou. Na verdade já há alguns dias ele tem me rondado. A espreita. Tenho medo dele. Essa minha fragilidade é muito complicada. É medo. Medo de retornar. Medo de não conseguir superar depois de cair. Sei que já encontrei o caminho para levantar uma vez, mas mesmo assim. Enquanto corria, me desequilibrei. Mas não cai. Apenas não tive firmeza nos pés. E veio o medo. Não sei muito bem de novo. O caminho que estou trilhando parece ser uma estupidez, uma burrice. Mas não consigo me desatar dele. Hoje estou aqui. Incomodada. Com o olhar perdido e um não saber. O que estou fazendo. Não tenho resposta. O que eu quero. Difícil de sustentar. Isso. Talvez um pouco mais. O que quero mais é simples parece. Quero não ter medo. Mas o medo vai sempre existir. Ele sempre vai estar por perto. Tal como o olhar perdido. Não adianta que isso eu não consigo perder. Logo eu que já me fiz perder tanto. Acho que nessa luta até já perdi. Provavelmente estou em queda. Mas mesmo assim. Mesmo tendo perdido. Não consigo desistir. Insisto, quero viver essa loucura sem saber muito bem onde isso vai dar. Se é que vai dar em algum lugar. Tem que dar em algum lugar?
Será que viver não é simplesmente isso. Correr. Sem uma direção. Ora para um lado ora pra outro?
Sem uma definição. Já defini muita coisa, mas continuo perdida. Estrangeira. Mas sem esforço. Aliás é isso que acontece. É sem esforço. Sou apenas eu mesma. Do jeito que quero ser. Isso torna difícil de desistir. Um jeito de me manter. Até por que não sei bem o que é sou agora. É tudo muito novo. Muitas vezes insensato. Sei que atualmente me abandono em queda. Tenho respirado em queda livre. Quase planando para olhares mais desatentos. Não quero pensar no choque com o chão. Que uma hora ou outra virá. Não há almofadas nem colchões me aguardando. Eu sei. E ainda assim. Me lanço na queda. Sentir o vento. Ouvir a mensagem.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Amar um cão

“EU TE AMO”
“NÃO ADIANTA FINGIR QUE NÃO SENTE”
“CUIDADO COM O QUE PLANTA NO MUNDO!”
“CUIDADO. FAÇA ISSO POR MIM.
POR MIM!
POR MIM!
POR MIM!”
Quem
Quem
Quem....

Quem...
Quem...

Quem

….
…... (trechos da peça Por Elise, do grupo Espanca)
Essas palavras ecoavam em sua cabeça. Dançam, brincavam, mas não queriam sair. Pareciam ter resolvido simplesmente ficar por ali. Até que ela lhes desse outro fim, senão ficarem guardadas.
Decidiu escrevê-las. De certa forma, no papel elas não seriam perdidas. Mas não era só isso.
Eram palavras latidas. Recordou de sentimentos que ela tentou esconder. Sentimentos que guardava para si. Também para não perdê-los. Afinal não podia abandonar a dor. Foi o que restou. Não, não foi apenas isso. E agora via com clareza. A dor era parte. Mas temia perder. Temia se esquecer. Mas não podia mais. Precisava se desprender da dor. Precisava deixa ele ir. Mas seria forte o suficiente? Afinal tinha sido muito tempo que se passara. Amara intensamente, desde o primeiro minuto. Desde o primeiro instante. Um instante que não podia perder. Mas que sempre vinha acompanhado da dor. A dor que veio anos depois, seis anos depois. Vivia a contradição de não poder abandonar o instante, mas não poder mais suportar a dor. Quem... Quem... Quem.... Ela respondia com toda a força que tinha... Eu... Eu.... Eu.... Ele sabia. Ela sabia.... Não podia esquecer. Mas não podia ficar para sempre assim. Não tinha mais ele. Não estava mais ali. Um dia lhe perguntaram. Você já amou de verdade? E ela respondeu sem dúvida, sem medo. Sim. A pessoa sorriu, iria provar seu ponto. E em seguida perguntou, mas o que aconteceu, afinal a pergunta está no passado. Morreu, ela respondeu. Então, aquele que queria provar que o amor acaba se perdeu no argumento. E ela ficou com seu olhar perdido. Distante. O tempo passava, precisava de outros amores, outros instantes. Não repetir o mesmo. Mas como uma cavalo novo com fogo nas patas poder correr um direção ao mar. Correr. Sentir o vento. Sentir-se viva depois de morrer um pouco. Era o que queria agora, correr. Correr...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Le Grand Tango - Astor Piazzolla and Gidon Kremer



Tango, uma tentativa de encontro, diante do desencontro imposto pela vida

quinta-feira, 26 de maio de 2011


O dia amanheceu coberto por uma névoa. Um certo embaçamento. O sol brilhava, até muito. Mas sobre as casas tudo branco. Ocultando ruas, janelas, pessoas se estivessem lá. Um conjunto, da névoa que não deixava a luz chegar e também uma luz forte demais para se ver.
O olhar perdido apareceu hoje novamente. Divaga, sem ver. Olha, mas para dentro. Sem entender. Não pergunto o que aconteceu, nem mesmo como. Mas saber me desorganizou. De sobremaneira. Desorganizou o corpo. Que não responde como deveria. Desorganizou a cabeça. Mesmo tentando não pensar. É sempre recorrente, brinco que não dá pra prever o futuro. O que pensamos hoje, amanhã já é diferente. Ter certeza é a maior ilusão de todas. Mas, as vezes, certas certezas batem a nossa porta. Todo mundo morre. Isso é, creio, a única certeza, sem ilusão. E eu, que já quis morrer, e a chamei para mim, penso como agora não é o momento. Agora já não a chamo, mas ela vem me lembrar que a gente também morre. E vem então Clarice brincar comigo... Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos....Sim

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Música

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De que lugar poderia vir aquele som?
A palavra perdida, mas não desconhecida.
Era mesmo uma palavra? Como poderia definir se o era ou não?
Era um som. Mas tinha algum sentido?
Sim, mas não em sua língua.
Sua língua não conseguia repeti-la.
Mas sabia que devia fazer algum sentido, talvez só para ela.
Não, ele também saberia. Podia perguntar a ele, então. Era uma boa razão.
Mas não.
Não saberia localizá-la, não conseguia pronunciá-la.
Não sabia de onde vinha o som. Não tinha como repeti-lo.
Levantou, olhou ao redor.
Vazio.
De onde ele veio?
Precisava achá-lo. Desvendá-lo.
Correu.
Parou.
Qual seria a direção?
Enquanto pensava, a palavra se repetiu.
Mas já era outra.
Essa já não tinha o desconhecido conhecido.
Mas agora sabia de onde vinha.
Correu.
Diante de uma porta esta o fim daquele caminho.
Mas distante ainda, o fim da busca.

sábado, 7 de maio de 2011

Caminhou pela sala, pelos quartos. Todos vazios. Desconhecidos, embora tão importantes em momentos de outrora. O sentimento era de estranhamento, distância. Pensava como fora difícil entrar ali. Tudo para agora se dar conta, que não, aquele lugar não podia mais feri-la. Seu sangue, sua dor, ficara na entrada, no chão, bem próximo ao portão. Caminhava sem se escorar. Os passos incertos, continham ainda algum medo. Mas este era pretérito e, portanto, não mais real. Já não caminhava com tanta temeridade. Atravessou o quarto. Sua mão tremia ao segurar no batente da janela. Fechou os olhos, respirou fundo. Deixou o ar entrar em seus pulmões, lentamente. Tal como fizera ao se erguer. Agora era a vez da casa. Mas não a pouparia, a encheria de ar de uma vez. E em um impulso abriu as janelas. De uma vez, sem pensar. Sentiu o ar em seu rosto. Abriu os olhos. A manhã estava muito azul, extremamente azul. Mas não insuportavelmente azul. Estava pacífica. Ela ou o dia? Se confundiam. Era uma mescla de um momento.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Era um texto confuso demais, verborrágico, não tinha pontos, vírgulas. Não era um texto comum ordenado, com os sujeitos intercalados de verbos e completados por predicados. Era uma enxurrada de palavras, quase desconexas, mas com um algo difícil de identificar, mas que as ligava. Uma linha de costura fina, quase como uma teia, que conectava as palavras, dando a elas algum sentido, mas um sentido que lhe escapava. Olhava o texto, o relia, mas ele continuava confuso, quando se aproximava da compreensão, esta lhe fugia. Como acontece quando tentamos tocar uma teia de aranha. Ela desaparece. Rompe-se e não se vê mais onde está.
Debruçou-se mais uma vez sobre o texto. Lia pausadamente. Palavra por palavra, calma, respirando entre elas. Nada. Sintia o sentido se aproximar, respirava antes de ler a palavra seguinte, cheia de expectativa, então escapava novamente. Precisava entender o texto, queria muito. A verdade é que a necessidade já fora deixada para trás há muito tempo. Restava só um desejo, e um desejo sem sentido, sem lógica, despido de ordem. Outras coisas iam lhe escapando enquanto tentava decifrá-lo. Viu esvair a calma. Não conseguia respirar entre as palavras, começou a amontoá-las. As lia uma sobre a outra. Alcançou a confusão. Já não mais no texto, mas em si mesma. Ou melhor, já não se podia mais distinguir onde era texto e onde era ela. Talvez num futuro ela enxergasse, caso se permitisse se perder com o texto. Esbarrava no real. Mas se o permitisse, cairia no abismo.