segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Certo dia de sol, numa cidade grande. Uma árvore atropelou uma menina. Anos mais tarde um jardim brotou em suas costas. Naquele dia, coisas pequenas iam dar certo, mas seu caminho foi interrompido. Nem sempre as coisas grandes ou pequenas dão certo. A menina ainda gosta de cravos. Mais por seu cheiro, que por seu nome. A mulher jardim ainda trava as costas. Nos momentos em que não acredita em si. Afinal, árvores atropelam pessoas apenas em contos de realismo fantástico ou filmes de terror.
Ah como é fácil se enganar na vida! Achando que o estranho é exterior. O estranho é o próprio real. Essa verdade que não me faz sentido. Que nunca nos obedece quando queremos. Mas ruma como uma nau perdida, num sem-sentido, nessa desrazão. Não adianta saber navegar, não adianta segurar o timão. Pois mesmo o rumo que resolvemos imprimir podem mudar nos deixando novamente a deriva.
Hoje não mudei o rumo. Mas as costas-jardim me atrapalham. Lembram-me que o real não pode ser engessado. Que o texto tem que ser liberado sem medo e, às vezes, sem forma, para depois de conformar e ter a forma que os outros esperam. Travo as costas por travar o texto, travar a ação. Não falta coragem ou vontade de continuar.
Era apenas preciso lembrar que diante do real nada se espera, nada se conforma. E principalmente que árvores atropelam pessoas.

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