quinta-feira, 7 de abril de 2011

Era um texto confuso demais, verborrágico, não tinha pontos, vírgulas. Não era um texto comum ordenado, com os sujeitos intercalados de verbos e completados por predicados. Era uma enxurrada de palavras, quase desconexas, mas com um algo difícil de identificar, mas que as ligava. Uma linha de costura fina, quase como uma teia, que conectava as palavras, dando a elas algum sentido, mas um sentido que lhe escapava. Olhava o texto, o relia, mas ele continuava confuso, quando se aproximava da compreensão, esta lhe fugia. Como acontece quando tentamos tocar uma teia de aranha. Ela desaparece. Rompe-se e não se vê mais onde está.
Debruçou-se mais uma vez sobre o texto. Lia pausadamente. Palavra por palavra, calma, respirando entre elas. Nada. Sintia o sentido se aproximar, respirava antes de ler a palavra seguinte, cheia de expectativa, então escapava novamente. Precisava entender o texto, queria muito. A verdade é que a necessidade já fora deixada para trás há muito tempo. Restava só um desejo, e um desejo sem sentido, sem lógica, despido de ordem. Outras coisas iam lhe escapando enquanto tentava decifrá-lo. Viu esvair a calma. Não conseguia respirar entre as palavras, começou a amontoá-las. As lia uma sobre a outra. Alcançou a confusão. Já não mais no texto, mas em si mesma. Ou melhor, já não se podia mais distinguir onde era texto e onde era ela. Talvez num futuro ela enxergasse, caso se permitisse se perder com o texto. Esbarrava no real. Mas se o permitisse, cairia no abismo.