quarta-feira, 9 de junho de 2010

A máquina lá fora range.
Como se gemesse ao jogar na terra todo o seu peso para perfurá-la. A estaca entra lentamente. Um dia não é suficiente para que a penetre e se fixe ali.
Quem te deu o direito de dizer que ela não existe. Quem pode dizer que a ausência não é também a própria existência?
Lá fora a máquina geme, e seu lamento me perturba. O som incessante da máquina adentra em mim como a estaca adentra a terra. Os dedos estão gelados, mas se movem. Ela ainda existe.
Ela não existe.
Leio um livro que fala de um amor que não existe. Mas é real. Uma carta. Num papel azul. Velho. A máquina continua martelando...
E a frase martela em minha mente... ela não existe. Nego a afirmação como a terra se nega a se abrir e aceitar a perfuração da estaca. Mas lentamente a força do bate-estaca vence a terra. E a estaca vai se fixando. Lentamente... Logo irá sustentar a um prédio. Sustentará outras vidas que nem sonham com a resistência da terra e com o trabalho da máquina.
Ela não existe. Não é real. Não toca o real. Imaterial. Ela, não hesite, é real demais.
Vê-se angustiada com a impossibilidade desse real. Da necessidade de viver nesse real que não compreende que não se pode falar de..., tocar. Imaterial, o real é o bate estacas que fere, sustenta, mas se desconhece.