quarta-feira, 13 de julho de 2011


Com passos curtos, mas decididos, adentrei na morada do fauno. Senti o cheiro do mato. Ouvi o barulho da água. Longe ficaram os carros e o concreto. Mesmo munida de um mapa, me dissolvo no labirinto. Em meio às arvores sinto o som que me embala. Sem medo, me perco. Navego pelos caminhos que se abrem, mas a direção e o mapa não servem mais para me orientar. Sei que nesse momento é necessário me perder para perder o que estava velho, que me pesa. O Fio de Ariadne que serviria de saída, constrói-se naquilo que tanto carreguei, mas que agora já não me é útil. Dentro do jardim sigo apenas. Por vezes, os pedaços que vou deixando cair fazem sons silenciosos. Como se não chegassem a tocar o chão, mas apenas pairassem. Certo momento porém, um estrondo, o pedaço perdido cai ferindo o solo. Me assusto e pela primeira vez olho para trás e percebo os vários pedaços deixados pelo caminho. Paro um instante. Vejo então o fio de Ariadne que se formou. Mas este não é reto e claro. Se embola, revela minha errância, a falta de direção dos meus passos dentro do labirinto. Ora avança, ora retorna e por fim, mistura-se. Sei que não há como resgatar o fio, e fazer dele minha volta. O fio já não está mais inteiro. Pouco a pouco percebo que junto com os pedaços que pedi cortei a linha que me liga a eles. Mas não tema leitor. Estar perdida é o meu jeito de me encontrar. Não me abandono. E permaneço inteira naquilo que me é necessário.
Continuo meu passeio pelo labirinto. Sei que cedo ou tarde me encontrarei com o monstro que guarda o lugar. Mas bem... Não há como teme-lo. Afinal sou tanto ele quando ele é a mim.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Aquecida pelo sol. Absorvendo dele toda foça que acumulava para o futuro. Mas desde já previa o momento. Inspirava o cheiro do mar. Como se pudesse guardá-lo em seus pulmões.

___________

Com a luz veio o silêncio.
É mais fácil falar dos temores do que das alegrias. Sorrir com os olhos. Olhos que sempre irão carregar o olhar perdido. Distante. O brilho do sol me aquece. Mas o vento rouba do meu corpo o calor. Nem todos os dias são de sol. As nuvens cinzas fazem parte do pantone de cores da vida. É importante lembrar que o brilho demais ofusca. Mesmo sendo capaz de exibi brilho nos olhos, estes mesmo olhos já foram escuridão e silêncio. A menina dos guarda-chuvas vive todas as formas. Enfim lançou-se na chuva, gelou os ossos. E agora se aquece ao sol.

________


Hoje não entrarei no mar. A placa vermelha avisa: Perigo. Correnteza. Mas, ainda assim, sinto o mar em mim.
Como se o mar entendendo que por hora devo respeitar o aviso, delicadamente lançasse gotículas sobre meu corpo. Abençoando a visita. Como se me chovesse o mar.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A mensagem estava lá fora. Mas o som era indistinto. Da janela, coberta com uma cortina branca vem o som de uma chuva que não existe. Mas parece torrencial. O som da água. Correndo. Para onde? A água sempre corre para o mar. Seu eterno retorno. Sua morada. Onde sua força repousa. Mas agora, olhando pela janela não se vê a água. E o som é indistinto. Apenas mexe com a imaginação daqueles que se perderam. Demorei para compreender. Mas...

domingo, 3 de julho de 2011

"Besouros não trepam no abstrato."
"O vazio é muito maior que o cheio" (MB)
Acordou. Fechou a mala. Falou pouco. Estava concentrada. Foi sozinha para o aeroporto. Caminhou pelo saguão, com música nos ouvidos. Mas ela precisava era de silêncio. Estava concentrada na tarefa da travessia. Apostara que não sofreria. Aquilo tinha acabado. Não mais a machucaria. Sentia uma leve angustia. Mas estava calculada Equilibrava-se concentrando em se perder. Caminhou para o embarque. Encontrou seu assento. Uma revista a distraia. Puro calculo. Enquanto o avião taxiava na pista ela lia todas as letras. Mas uma a uma. Não lia o texto. Se concentrava no traço. Achava que assim trapacearia com o medo. Fingia não pensar.
Então sentiu que perdia o chão. Parou. Não podia trapacear. Não iria se enganar mais. Sorriu. Deixou o seu corpo sentir. Não mais se concentrou. Olhou pela janela e o chão, distante, encontrava-se torto, inclinado. Não podia fingir que não sentia. Mas também soube que não era mais medo. Estava desamarrada. Estava livre. Perdera a gravidade. Ficou leve e, o ultimo peso escorreu em uma lágrima. Estava sem chão. Mas agora ouvia claramente a mensagem. Sem medo. Voou. Via o céu. O horizonte vazio de palavras para explicá-lo. Seu chão virou nuvens de algodão. E a suavidade do entardecer coloriu o seu céu. Foi para o alto. Muito alto. Mas não havia mais dor. Mesmo o vazio não doía mais. O olhar perdido. Ah olhar perdido se perdeu na imensidão das nuvens. Se voltou para fora, e não mais para dentro. E agora era silêncio. Um silêncio que coloria o vazio com a paleta do entardecer.