domingo, 3 de julho de 2011

"Besouros não trepam no abstrato."
"O vazio é muito maior que o cheio" (MB)
Acordou. Fechou a mala. Falou pouco. Estava concentrada. Foi sozinha para o aeroporto. Caminhou pelo saguão, com música nos ouvidos. Mas ela precisava era de silêncio. Estava concentrada na tarefa da travessia. Apostara que não sofreria. Aquilo tinha acabado. Não mais a machucaria. Sentia uma leve angustia. Mas estava calculada Equilibrava-se concentrando em se perder. Caminhou para o embarque. Encontrou seu assento. Uma revista a distraia. Puro calculo. Enquanto o avião taxiava na pista ela lia todas as letras. Mas uma a uma. Não lia o texto. Se concentrava no traço. Achava que assim trapacearia com o medo. Fingia não pensar.
Então sentiu que perdia o chão. Parou. Não podia trapacear. Não iria se enganar mais. Sorriu. Deixou o seu corpo sentir. Não mais se concentrou. Olhou pela janela e o chão, distante, encontrava-se torto, inclinado. Não podia fingir que não sentia. Mas também soube que não era mais medo. Estava desamarrada. Estava livre. Perdera a gravidade. Ficou leve e, o ultimo peso escorreu em uma lágrima. Estava sem chão. Mas agora ouvia claramente a mensagem. Sem medo. Voou. Via o céu. O horizonte vazio de palavras para explicá-lo. Seu chão virou nuvens de algodão. E a suavidade do entardecer coloriu o seu céu. Foi para o alto. Muito alto. Mas não havia mais dor. Mesmo o vazio não doía mais. O olhar perdido. Ah olhar perdido se perdeu na imensidão das nuvens. Se voltou para fora, e não mais para dentro. E agora era silêncio. Um silêncio que coloria o vazio com a paleta do entardecer.

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