quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


Diante do espelho ela se encontrava perdida em pensamentos. Não podia muito bem descrevê-los. Apenas o comum tumulto. Não olhava para seu reflexo, ou mesmo para dentro. O olhar era indefinido. Não via. Então dentro do espelho ela o viu. Estava atrás dela. Próximo à parede. Um simples cabideiro com uma casaca e chapéu. Mas pelo espelho ela o via. E ali ele se movia. Acenava para ela. A convidava para dançar. Ela pensou em se levantar da cadeira e ir. O homem sem rosto poderia abraçá-la. Sabia que durante um tempo seria uma forma de fingir que não estava sozinha. Confrontara a solidão, mas estava cansada. Pensou em fingir. Levantou-se e foi abraçada pela casaca. Aninhou sua cabeça em seu ombro. Sentia os cheiros. Sentia o calor. Durante um tempo isso a acalmou. Ali não estava vazia, não estava sozinha. Tentou sorrir, mas apenas conseguiu esboçar um ligeiro movimento nos lábios. Então a música acabou. E com isso também a valsinha que bailava. O quarto voltou a ficar frio. Pela janela podia ver o sol se pôr. E ela estava ali. Novamente só. O sonho se desvaneceu. O cabideiro era apenas um cabideiro novamente. Retornou ao espelho. Imaginava que o reflexo que veria seria triste. Magoado. Com aquele olhar perdido. Mas não. Algo havia mudado. Os olhos estavam secos, mas brilhantes. Sair da realidade, mesmo que momentaneamente fora bom. Terminou de empoar o rosto. A maquiagem naquele momento não se assumia como máscara. Sozinha, já no lusco fusco sorriu. O verdadeiro sorriso que buscava. Estava pronta.