sexta-feira, 27 de maio de 2011

Le Grand Tango - Astor Piazzolla and Gidon Kremer



Tango, uma tentativa de encontro, diante do desencontro imposto pela vida

quinta-feira, 26 de maio de 2011


O dia amanheceu coberto por uma névoa. Um certo embaçamento. O sol brilhava, até muito. Mas sobre as casas tudo branco. Ocultando ruas, janelas, pessoas se estivessem lá. Um conjunto, da névoa que não deixava a luz chegar e também uma luz forte demais para se ver.
O olhar perdido apareceu hoje novamente. Divaga, sem ver. Olha, mas para dentro. Sem entender. Não pergunto o que aconteceu, nem mesmo como. Mas saber me desorganizou. De sobremaneira. Desorganizou o corpo. Que não responde como deveria. Desorganizou a cabeça. Mesmo tentando não pensar. É sempre recorrente, brinco que não dá pra prever o futuro. O que pensamos hoje, amanhã já é diferente. Ter certeza é a maior ilusão de todas. Mas, as vezes, certas certezas batem a nossa porta. Todo mundo morre. Isso é, creio, a única certeza, sem ilusão. E eu, que já quis morrer, e a chamei para mim, penso como agora não é o momento. Agora já não a chamo, mas ela vem me lembrar que a gente também morre. E vem então Clarice brincar comigo... Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos....Sim

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Música

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De que lugar poderia vir aquele som?
A palavra perdida, mas não desconhecida.
Era mesmo uma palavra? Como poderia definir se o era ou não?
Era um som. Mas tinha algum sentido?
Sim, mas não em sua língua.
Sua língua não conseguia repeti-la.
Mas sabia que devia fazer algum sentido, talvez só para ela.
Não, ele também saberia. Podia perguntar a ele, então. Era uma boa razão.
Mas não.
Não saberia localizá-la, não conseguia pronunciá-la.
Não sabia de onde vinha o som. Não tinha como repeti-lo.
Levantou, olhou ao redor.
Vazio.
De onde ele veio?
Precisava achá-lo. Desvendá-lo.
Correu.
Parou.
Qual seria a direção?
Enquanto pensava, a palavra se repetiu.
Mas já era outra.
Essa já não tinha o desconhecido conhecido.
Mas agora sabia de onde vinha.
Correu.
Diante de uma porta esta o fim daquele caminho.
Mas distante ainda, o fim da busca.

sábado, 7 de maio de 2011

Caminhou pela sala, pelos quartos. Todos vazios. Desconhecidos, embora tão importantes em momentos de outrora. O sentimento era de estranhamento, distância. Pensava como fora difícil entrar ali. Tudo para agora se dar conta, que não, aquele lugar não podia mais feri-la. Seu sangue, sua dor, ficara na entrada, no chão, bem próximo ao portão. Caminhava sem se escorar. Os passos incertos, continham ainda algum medo. Mas este era pretérito e, portanto, não mais real. Já não caminhava com tanta temeridade. Atravessou o quarto. Sua mão tremia ao segurar no batente da janela. Fechou os olhos, respirou fundo. Deixou o ar entrar em seus pulmões, lentamente. Tal como fizera ao se erguer. Agora era a vez da casa. Mas não a pouparia, a encheria de ar de uma vez. E em um impulso abriu as janelas. De uma vez, sem pensar. Sentiu o ar em seu rosto. Abriu os olhos. A manhã estava muito azul, extremamente azul. Mas não insuportavelmente azul. Estava pacífica. Ela ou o dia? Se confundiam. Era uma mescla de um momento.