sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Acendeu um cigarro. Não que isso lhe ajudasse na espera. Mas iludia.
Já havia preparado sua fala. Era um final. Um ponto final. Havia decidido assim, não voltaria atrás. Na noite insone anterior repassara tudo que precisava dizer. Todas as explicações que gostaria de dar.
Estava sentada num bar conhecido. Velho conhecido dos dois.
Em sua cabeça tocava a música. Dois violões e um acordeon. Um diálogo de adeus. Um adeus sem briga. Sem mágoa. Apenas a constatação de que algo acabou. Um algo, que por seu forte fim, não deixava restar nada. Apenas a tristeza do fim. Ele entrou.
Já sabia o que ocorreria em seguida. Por alguns instantes apenas os olhos conversaram. E ambos assentiram. Não cabia palavras. Todo o discurso ensaiado se esvaziara. Não havia mais sentido. Dizer adeus não era fácil. Nunca o será. Ela por fim deixou o som sair.
Você já sabe.
Sim, ele respondeu.
Ela apagou o cigarro.
Não havia consumido nada. Não havia sentido nem em pedir a conta. Levantou.
Passou a mão no cabelo. Olhou mais uma vez nos olhos dele. Vazio. Sentia a tristeza. Mas não havia mais nada. Teve a certeza, coisa que preferia sempre evitar, mas essa certeza era mais forte. Assim, fez o que faltava, o que achava devido e correto.
Adeus.
Se virou. A vontade era de virar para trás, tentar reconhecer algo que ainda restasse. Algo, uma faísca, que a fizesse se arrepender. Desistir. Mas sabia que não encontraria mais nada ali. Forçou-se a caminhar. Ir se distanciando. Não sem lágrimas. Afinal, por mais que já soubesse, ainda assim doía. E continuou caminhando. Resistindo ao desejo de procurar o que já não havia.
A música: Milonga del Angel - http://www.reverbnation.com/artist/song_details/749407
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