domingo, 26 de junho de 2011

Uma taça de vinho e uma caixa cheia de lembranças. Diante dela a difícil tarefa de se confrontar com aquilo. O passado. Em sua defesa a necessidade da mudança. Uma física que se aproxima. Ou mais sutil. Quase imperceptível que tem acontecido. Viu se estraçalhar e temeu se quebrar. Nada disso aconteceu. Descobriu-se forte. O que temia que podia ser o encontro com o chão se revelou apenas uma suave turbulência. Continuava inteira. A fragilidade não estava mais ali. Essa nova pessoa que aos poucos se descobria era muito mais forte e honesta consigo. Sabia o que queria e não se desviaria disso. Seu rumo, não plano, estava sendo traçado por ela. Somente por ela e ninguém mais. Abriu a caixa. O cheiro gostoso dos incensos guardados inundou o quarto. Não era suave, mas era doce e levemente embalava o caminho para mergulhar no mar de lembranças. A primeira coisa que viu foi uma foto. Era uma foto de alguém que ela não queria mais se lembrar. Sem pena a rasgou. E viu o temor. Tudo ali seria assim? Será que em sua nova força apagaria todo o passado? Continuou. Não podia parar. Cartas de amigos que não estavam mais com ela, por caminhos diferentes. Mas ficava a nostalgia da inocência do momento. Guardaria. Não era mais verdadeiros os sentimentos ali. Mas um dia foram. Um poema de um amor antigo, fez suas mãos tremerem. Podia se deparar com o momento de impulso tal como anterior, e o destruir. Abriu o papel amassado e envelhecido. Leu. Sua mente estava em paz. Aquilo fora realmente verdadeiro. Não podia abrir mão do que fora. Aquilo realmente fazia parte dela. Era o que se tornara, também por causa do que vivera. E disso não mais se arrependia. Sorriu. Certas coisas são melhor esquecidas. Perdidas, ou até jogadas fora. Outras, por mais que não tivessem sido completamente felizes, foram momentos que guardaria. Mas agora sem nenhuma dor.

sábado, 18 de junho de 2011

Os passos ecoavam distantes. As pessoas daquela casa se moviam, mas distantes daquele quarto. Estava escuro e já não sabia que horas eram. Quanto tempo eu dormi, pensei? O olhar perdido voltou. Na verdade já há alguns dias ele tem me rondado. A espreita. Tenho medo dele. Essa minha fragilidade é muito complicada. É medo. Medo de retornar. Medo de não conseguir superar depois de cair. Sei que já encontrei o caminho para levantar uma vez, mas mesmo assim. Enquanto corria, me desequilibrei. Mas não cai. Apenas não tive firmeza nos pés. E veio o medo. Não sei muito bem de novo. O caminho que estou trilhando parece ser uma estupidez, uma burrice. Mas não consigo me desatar dele. Hoje estou aqui. Incomodada. Com o olhar perdido e um não saber. O que estou fazendo. Não tenho resposta. O que eu quero. Difícil de sustentar. Isso. Talvez um pouco mais. O que quero mais é simples parece. Quero não ter medo. Mas o medo vai sempre existir. Ele sempre vai estar por perto. Tal como o olhar perdido. Não adianta que isso eu não consigo perder. Logo eu que já me fiz perder tanto. Acho que nessa luta até já perdi. Provavelmente estou em queda. Mas mesmo assim. Mesmo tendo perdido. Não consigo desistir. Insisto, quero viver essa loucura sem saber muito bem onde isso vai dar. Se é que vai dar em algum lugar. Tem que dar em algum lugar?
Será que viver não é simplesmente isso. Correr. Sem uma direção. Ora para um lado ora pra outro?
Sem uma definição. Já defini muita coisa, mas continuo perdida. Estrangeira. Mas sem esforço. Aliás é isso que acontece. É sem esforço. Sou apenas eu mesma. Do jeito que quero ser. Isso torna difícil de desistir. Um jeito de me manter. Até por que não sei bem o que é sou agora. É tudo muito novo. Muitas vezes insensato. Sei que atualmente me abandono em queda. Tenho respirado em queda livre. Quase planando para olhares mais desatentos. Não quero pensar no choque com o chão. Que uma hora ou outra virá. Não há almofadas nem colchões me aguardando. Eu sei. E ainda assim. Me lanço na queda. Sentir o vento. Ouvir a mensagem.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Amar um cão

“EU TE AMO”
“NÃO ADIANTA FINGIR QUE NÃO SENTE”
“CUIDADO COM O QUE PLANTA NO MUNDO!”
“CUIDADO. FAÇA ISSO POR MIM.
POR MIM!
POR MIM!
POR MIM!”
Quem
Quem
Quem....

Quem...
Quem...

Quem

….
…... (trechos da peça Por Elise, do grupo Espanca)
Essas palavras ecoavam em sua cabeça. Dançam, brincavam, mas não queriam sair. Pareciam ter resolvido simplesmente ficar por ali. Até que ela lhes desse outro fim, senão ficarem guardadas.
Decidiu escrevê-las. De certa forma, no papel elas não seriam perdidas. Mas não era só isso.
Eram palavras latidas. Recordou de sentimentos que ela tentou esconder. Sentimentos que guardava para si. Também para não perdê-los. Afinal não podia abandonar a dor. Foi o que restou. Não, não foi apenas isso. E agora via com clareza. A dor era parte. Mas temia perder. Temia se esquecer. Mas não podia mais. Precisava se desprender da dor. Precisava deixa ele ir. Mas seria forte o suficiente? Afinal tinha sido muito tempo que se passara. Amara intensamente, desde o primeiro minuto. Desde o primeiro instante. Um instante que não podia perder. Mas que sempre vinha acompanhado da dor. A dor que veio anos depois, seis anos depois. Vivia a contradição de não poder abandonar o instante, mas não poder mais suportar a dor. Quem... Quem... Quem.... Ela respondia com toda a força que tinha... Eu... Eu.... Eu.... Ele sabia. Ela sabia.... Não podia esquecer. Mas não podia ficar para sempre assim. Não tinha mais ele. Não estava mais ali. Um dia lhe perguntaram. Você já amou de verdade? E ela respondeu sem dúvida, sem medo. Sim. A pessoa sorriu, iria provar seu ponto. E em seguida perguntou, mas o que aconteceu, afinal a pergunta está no passado. Morreu, ela respondeu. Então, aquele que queria provar que o amor acaba se perdeu no argumento. E ela ficou com seu olhar perdido. Distante. O tempo passava, precisava de outros amores, outros instantes. Não repetir o mesmo. Mas como uma cavalo novo com fogo nas patas poder correr um direção ao mar. Correr. Sentir o vento. Sentir-se viva depois de morrer um pouco. Era o que queria agora, correr. Correr...