quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

Decorei este soneto, durante um amor adolescente. O declamava a todos os cantos. Estava acometida pelo amor. Encantada. Quando o amor findou, o repudiei, bem como todas as lembranças e sonhos. Julgava-o esquecido, perdido nas desilusões. Então primeiro um sonho. Nele me liberto do medo. Esqueço a desilusão. Abando as amarras do passado e aceito caminhar com os pés descalços. Hoje, sem esperar, o soneto retonou também. Tão claro como na primeira vez que o declamei ao meu antigo amor. Não acredito que eu estaja tentando desenterrar mortos. Pelo o contrário. Acho que enfim me liberto. Exorciso um fantasma. É o início da primavera. O recomeço.

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